Emigrar para o outro lado do mar: brasileiras imaginam a Europa
Resumo
Instigada pelos media globais, a imaginação de contextos e estilos de vida alternativos é uma prática social cada vez mais (re)corrente. No artigo analiso esta prática entre mulheres brasileiras que se envolvem em relações de intimidade com turistas europeus no bairro balnear de Ponta Negra (Natal, Nordeste brasileiro). Sem esquecer que a imaginação é indissociável de determinados quadros de economia política, procuro compreender de onde procedem e como se manifestam os0 imaginários da Europa produzidos por estas mulheres; em que medida estes imaginários configuram predisposição e agência para a migração transatlântica; e como as representações prévias são calibradas e ressignificadas quando ocorrem mobilidades para o continente europeu. A análise é alicerçada numa experiência de terreno etnográfica, no âmbito da qual a observação participante e as entrevistas semidirigidas constituíram procedimentos centrais de pesquisa empírica.Palavras-chave
Imaginação, Paixões Transnacionais, Migração, Brasil, EuropaReferências
À Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT, Portugal), pela bolsa de doutoramento SFRH/BD/60862/2009 para o trabalho de campo no Brasil e na Europa.
Ao Centro de Estudos Transdisciplinares para o Desenvolvimento (CETRAD-UTAD), entidade financiada por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto UIDB/04011/2020.
Ao Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA-IUL), instituição financiada pela FCT no quadro do projeto UIDB/04038/2020.
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