Inadotáveis: agenciamentos tecnicoassistenciais da deficiência intelectual como barreira para a adoção de crianças e adolescentes

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Resum

Neste trabalho, temos como objetivo discutir a produção da inadotabilidade como categoria classificatória que incide sobre as crianças e adolescentes com deficiência disponíveis à adoção. Trata-se de pesquisa documental situada na perspectiva do campo-tema, que produziu linhas narrativas a partir do encontro com os processos de busca por pretendentes à adoção de 3 crianças/adolescentes diagnosticados como pessoas com deficiência intelectual, acolhidos institucionalmente e destituídos do poder familiar. Os resultados permitiram entrever que operam duas forças que circulam nas trajetórias das crianças e adolescentes, nestes contextos, que se retroalimentam, justificam e organizam mutuamente: a medicalização/patologização das suas vidas pelo sistema de garantia de direitos e a produção da categoria inadotável/não passível de adoção. A primeira individualiza e biologiciza questões de ordem coletiva e social e a segunda, anula a existência destas pessoas no sentido do não reconhecimento da dignidade de suas vidas.

Paraules clau

Institucionalização, Direitos de crianças e adolescentes, Adoção, Deficiência

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Biografia de l'autor/a

Mary Jane Paris Spink, Pontificia Universidade Católica de São Paulo / Professora

Professora Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social - PUC-SP

Doutora em Psicologia Social – LSE, Universidade de Londres

Publicades

20-06-2024

Com citar

Taño, B. L., Vicentin, M. C. G., & Spink, M. J. P. (2024). Inadotáveis: agenciamentos tecnicoassistenciais da deficiência intelectual como barreira para a adoção de crianças e adolescentes. thenea igital. evista e ensamiento investigación ocial, 24(2), e3476. https://doi.org/10.5565/rev/athenea.3476

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