Análise do funcionamento de comunidade terapêutica para usuários de drogas

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Resumo

A internação prolongada de usuários de drogas em Comunidades Terapêuticas (CT) tem se tornado política pública. O objetivo deste estudo foi conhecer e analisar o funcionamento cotidiano de uma CT, considerando as atividades desenvolvidas, as relações estabelecidas e o processo de intervenção. Foram realizadas cinco visitas a uma CT, sendo estas registradas em caderno de campo. As anotações foram analisadas buscando-se compreender características discursivas do funcionamento destas e do impacto na subjetividade. As atividades desenvolvidas eram laborterapia e atividades grupais, sendo explorada a crença religiosa cristã. As relações eram hierarquizadas, com uso de estratégias de controle, culpabilização e confrontação. As atividades posicionavam os usuários como impulsivos, dependentes e desviantes. Não era levada em consideração a influência, nas trajetórias de vida, do pouco acesso aos bens de consumo e de cidadania, sendo a problemática da droga tratada apenas como algo interno, justificando as tentativas para reconstruir a identidade do usuário.

Palavras-chave

Comunidades Terapêuticas, Uso de Drogas, Internação

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Biografia do Autor

Mariane Capellato Melo, Faculdade de Filosofia Ciencias e Letras de Ribeirão Preto, Programa de Pós-graduação em Psicologia

Mestre em psicologia  na área de psicologia saúde e desenvolvimento pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto-USP

Clarissa Mendonça Corradi-Webster, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - USP, Departamento de Psicologia

Professora Doutora do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – USP

Publicado

2016-11-08

Como Citar

Capellato Melo, M., & Mendonça Corradi-Webster, C. (2016). Análise do funcionamento de comunidade terapêutica para usuários de drogas. Athenea Digital. Revista De Pensamiento E investigación Social, 16(3), 379–399. https://doi.org/10.5565/rev/athenea.2012

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