“Nosotros H.I.J.O.S.”: dinâmicas identitárias a partir de publicações no ciberespaço

“Nosotros H.I.J.O.S.”: identity dynamics on publications in cyberspace

  • Janaína Campos de Freitas Breugelmans
  • Flaviane da Costa Oliveira
  • Jaíza Pollyanna Dias da Cruz Rocha
  • Ingrid Faria Gianordoli-Nascimento
Este estudo teve por objetivo investigar as dinâmicas identitárias dos grupos Hijos/Argentina e Hijos/Paraguai, organizações de direitos humanos associadas a rede H.I.J.O.S — Por la Identidad y la Justicia Contra el Olvido y El Silencio. Os dados foram coletados a partir de secções de publicações das suas webpages e separados em dois corpora. As análises foram realizadas de forma independente com o suporte do software ALCESTE PLUS. A partir do procedimento de classificação hierárquica descendente foram encontradas três classes para o conjunto textual argentino e quatro classes para o conjunto paraguaio. Foi possível observar que os grupos buscam valorizar-se e diferenciar-se dos demais organismos de Direitos Humanos relacionados à temática das ditaduras na América do Sul, utilizando do ciberespaço como um lócus de reconhecimento e legitimidade.
    Palavras chave:
  • Identidade social
  • Ditaduras
  • Ciberespaço
  • H.I.J.O.S.
The objective of this research was to investigate the identity dynamics of the HIJOS group Argentina and HIJOS group Paraguay, human rights organizations associated to the network of H.I.J.O.S — Por la Identidad y la Justicia Contra el Olvido y El Silencio. The data were collected from the publications sections on their websites and were divided into two corpora. The analyses were performed independently with the support of ALCESTE PLUS software. In the procedure of the Descending Hierarchical Classification, three classes were found throughout the Argentine text and four classes in the Paraguayan content. On the basis of all data, it was possible to observe that both groups seek to be valued and differentiate themselves from other Human Rights bodies related to the theme of dictatorships in South America, using the cyberspace as a locus of recognition and legitimacy.
    Keywords:
  • Social identity
  • Dictatorships
  • Cyberspace
  • H.I.J.O.S.

1 Introdução

A repressão estatal, o ativismo revolucionário da juventude e o embate entre forças políticas em meados dos anos de 1960 e 1970, marcaram a América do Sul, conforme ressalta Elizabeth Jelin (2010), autora que reitera os ciclos de violentas ditaduras na região: inicialmente no Brasil (1964), em seguida no Uruguai (1973) e Chile (1973), e finalmente, na Argentina (1976), somando-se a Alfredo Stroessner, que em 1954 tomou, forçadamente, o poder no Paraguai.

Em relação ao cenário paraguaio, Andrew Nickson (2010) afirma que a ditadura perpetrada por Stroessner compartilhou semelhanças ideológicas com os regimes implementados na Argentina, Brasil, Chile e Uruguai, classificados por ele como “burocráticos-autoritários” (p. 289). Todavia, para o autor, o regime paraguaio teve quatro grandes diferenças em relação aos demais: 1) a imagem do governo esteve personalizada e centralizada mais na figura de Stroessner do que nos militares enquanto instituição; 2) as Forças Armadas alinharam-se ao Partido Colorado, presidido pelo próprio Stroessner; 3) o Partido Colorado se transformou em um dos pilares do regime ao capilarizar o seu controle em diferentes esferas da sociedade paraguaia, chegando a ter influência na oposição política e nas organizações sociais, através da ameaça e uso da violência; 4) enquanto as outras ditaduras reconheceram perante a comunidade internacional o seu caráter de “regimes de exceção” (p. 290), Stroessner sempre manteve a fachada de democracia para dar ao seu golpe uma áurea de legitimidade.

Por outro lado, Juan Carlos Gutiérrez Contreras e Myrna Roxana Villegas Díaz (1998) compreendem que todos os governos ditatoriais latino-americanos tiveram como eixo comum as violações persistentes aos direitos humanos, e conjuntamente o caráter ideológico que impunha a eliminação das dissidências políticas, utilizando-se da “cooperación a nivel internacional en el control y en la eliminación de la disidencia política, cuyo blanco principal era la izquierda política, en especial los Partidos Comunistas y Socialistas, amén de los focos guerrilleros” (p. 20).

Para John Dinges (2005), além de partilharem o uso da violência como prática repressiva, em 1975 a Operação Condor foi estabelecida pelos principais representantes das agências de inteligência desses países, com o acréscimo da Bolívia e interferência dos Estados Unidos. Segundo Dinges (2005) e Samantha Quadrat (2003) o intuito dessa cooperação foi coordenar as ações de combate anti-comunistas na região, a partir do intercâmbio de informações sobre a "subversão" e os “subversivos”, além de promover a realização de ações conjuntas e a oferta de treinamento militar especializado (Dinges, 2005; Quadrat, 2003). Assim, no bojo das atividades da operação, foi executado o plano sistemático de “detenciones ilegales seguidas de secuestros prolongados, que derivaron en desapariciones forzadas de personas o en asesinatos, precedidos de torturas… Estas acciones afectaron a ciudadanos de Argentina, España, Reino Unido,

Estados Unidos, Chile, Suiza y Francia, entre otros” (Gutiérrez Contreras & Villegas Díaz, 1998, p. 20).

A instauração da violência estatal desmedida, assim como a repressão ilegal, evidenciou a região, visto que cada vez mais o número de exilados latino-americanos aumentava, tal qual as denúncias de crimes de tortura e assassinato por razões políticas (Jelin, 2010). Nesse sentido, é importante mencionar que assim como as ditaduras orquestram redes de integração com o intuito de consolidar a repressão, as entidades de direitos humanos, em conjunto com diversas associações de familiares de desaparecidos, sindicais, organizações políticas (legais ou clandestinas), grupos religiosos e organismos internacionais se articularam para denunciar os crimes perpetrados pelas ditaduras da região. Segundo Guilherme Barboza de Fraga (2012) e Enrique Serra Padrós e Jorge Eduardo Enríquez Vivar (2013) esses grupos se empenharam na retirada de militantes perseguidos e criaram verdadeiras redes de solidariedade àqueles que foram atingidos pela violência estatal.

Nesse contexto foram articuladas as primeiras organizações de direitos humanos por familiares de perseguidos pelas ditaduras na América do Sul. No Paraguai, em 1967, é criada Comisión de Defensa de los Derechos Humanos, que segundo Cristina Scheibe Wolff e Tamy Amorim da Silva (2013), tendo fortes vínculos junto à igreja católica, a organização tinha em seu escopo prestarem auxílio aos presos políticos e exilados do regime de Stroessner.. Em 1976, a organização de Familiares de Detenidos y Desaparecidos por Razones Políticas é uma das primeiras a se organizar na Argentina. No ano posterior, inicia-se os primeiros encontros daquelas, que mais tarde, se tornariam o emblema do movimento de direitos humanos organizados por familiares de presos políticos, as Madres de Plaza de Mayo. Elizabeth Jelin (2007) destaca que em novembro do mesmo ano foi criada a Asociación de Abuelas de Plaza de Mayo como uma ramificação das Madres, cuja especificidade se centrava na restituição dos filhos dos militantes desaparecidos nos porões da repressão.

Foi a partir dos golpes na América do Sul que as organizações de direitos humanos se firmaram como peças significativas no protesto contra a repressão e os crimes cometidos pelos governos ditatoriais, sobretudo, àqueles protagonizados pelos familiares. Para Martín Abregú (2008), a articulação em defesa dos direitos humanos foi imprescindível para os processos de consolidação de regimes mais democráticos na América do Sul.

Cabe ressaltar que a centralidade do conteúdo humanitário das denúncias foi essencial para a consolidação da legitimidade pública que esses organismos alcançaram. Santiago Cueto Rúa (2008) salienta que as organizações humanitárias instalaram publicamente um modo de interpretar as ações dos governos ditatoriais que se distanciava radicalmente do fundamento de “guerra interna” propagandeado pela Doutrina de Segurança Nacional (DSN). Essas organizações rechaçaram completamente a leitura das ações repressivas enquanto “atos de guerra”, priorizando o caráter humano dos presos e desaparecidos políticos, caracterizando as ações do Estado enquanto crimes de lesa-humanidade (Cueto Rúa, 2008).

O protagonismo das organizações formadas por vítimas das ditaduras e seus familiares acabou por demarcar o tom das reivindicações dos processos de redemocratização nesses países. Como destaca Janaína de Almeida Teles (2005) a mobilização jurídica em escalas nacional e transnacional tem sido desde então um elemento importante para o trabalho de memória e de justiça em diversos países da América Latina, cuja principal força motriz, encontra-se na mobilização de ex-presos políticos e grupos de familiares de perseguidos, mortos e desaparecidos por razões políticas.

1.1 Identidade e Ciberespaço

André Lemos (2013) aponta que no ambiente comunicacional do ciberespaço, comunidades virtuais vão se delineando a partir de interesses comuns. Entre os diversos grupos que utilizam a internet na atuação política e promoção de suas causas, destacaremos os atingidos pelas ditaduras na América Latina, em específico, os filhos dos ex-militantes de Argentina e Paraguai. Interessa-nos, especialmente, as relações identitárias estabelecidas por esses coletivos.

A ideia de que o ciberespaço é ocupado por diferentes sujeitos, grupos e demandas é recorrente, a começar dos primeiros estudos sobre esse ambiente. Conforme sinaliza Heloísa Buarque de Hollanda (1999) sobre as mobilizações dos grupos organizados, historicamente, setores marginalizados intentaram um espaço de reconhecimento e identificação para além das suas fronteiras geográficas de pertença, encontrando na articulação internacional — inclusive por meio da Internet — uma possível resposta à fragilidade gerada pela invisibilidade local (Hollanda, 1999). Maria da Glória Gohn (2011) reafirma essa visão ao destacar que a partir da primeira década do século XXI, houve uma ampliação do escopo de atuação de diversos grupos organizados. Ultrapassando as fronteiras da nação e conectadas por meios tecnológicos “atores entraram em cena, tanto do ponto de vista de propostas que pautam para os temas e problemas sociais da contemporaneidade, como na forma como se organizam, utilizando-se dos meios de comunicação e informação modernos” (Gohn, 2011, p. 338).

Segundo Carlos Alberto Saldanha (2007) desde meados da década de 1990, a Internet se tornou o maior repositório de informações e conhecimento, assim como o maior meio de comunicação individual, modificando profundamente o processo de transmissão, recepção e conhecimento. O fenômeno das “blogosferas” problematizado por André Lemos (2005) reflete essa dimensão da produção e distribuição crescente de conteúdos produzidos por indivíduos, organizações, grupos, que estejam dispostos a emitir informação de inúmeras naturezas. A ascensão da produção de conteúdo “têm servido como instrumentos para que vozes autênticas surjam, criando um contraponto à mídia clássica e à censura política” (Lemos, 2005, pp. 3-4).

O uso constante desse novo espaço acaba por “criar novas composições das relações interpessoais, novas regiões de fachada e de fundo (em sistemas como blogs, Twitter, Facebook, chats)” (Lemos, 2013, p. 59). Deste modo, o autor conclui que ao pensar o ciberespaço como um espaço relacional, em constante formação, é possível entendê-lo como lócus no qual o social se conforma. Nessa dimensão, é necessário, com afirma André Lemos (2004) compreender os usuários desse espaço como sujeitos ativos no processo, “devemos superar a perspectiva do uso correto ou não das máquinas de comunicação, marcados para sempre pelo estigma do consumidor passivo e envolvido por uma rede de estratégias dos produtores. Devemos vê-lo como agente” (p. 180).

Historicamente, os estudos em Psicologia que abordam o ciberespaço têm focado a atenção no uso patológico da Internet, como o trabalho de Sandra Yuu Ookita e Hideyuki Tokuda (2001); nas múltiplas personalidades e criação de avatares como investigado por John Suler (2002); na Internet como ferramenta para orientação profissional como visto em Marlos Gonçalves Terêncio e Dulce Helena Penna Soares (2003); nas relações interpessoais tecidas em ambiente de interação online como em John Bargh e Katelyn McKenna (2004); em modelos preditivos sobre a adesão às crenças ufológicas no ciberespaço, conforme Marcos Emanoel Pereira (2007); na utilização do ambiente virtual para recrutamento de participantes em pesquisa como apresentado por João WachelkeI, Fernando Rech e Alexsandro Luiz de Andrade (2009), tal como para formação de professores para uma educação inclusiva, como visto no trabalho de Ângela Maria Vieira Pinheiro (2014). Diferentemente dos estudos citados, e de forma alinhada ao argumento de Giuseppe Riva e Carlo Galimberti (2004) o interesse nessa pesquisa reside em focalizar os processos grupais em torno do “ser filho de ex-militante político” como objeto social, tomando o ambiente virtual como fonte documental para a coleta de dados, em razão de ele ser compreendido como um espaço psicossocial por excelência, rico em relações e interações sociais, disputas e contradições.

A compreensão do pertencimento dos indivíduos aos grupos sociais e suas relações, seja no contexto material ou psicológico encontra ressonância na teoria da Identidade Social de Henri Tajfel (1983a, 1983b). Para o autor, a identidade social pode ser definida como “aquela parcela do autoconceito dum indivíduo que deriva do seu conhecimento da sua pertença a um grupo (ou grupos) social, juntamente com o significado emocional e de valor associado àquela pertença” (Tajfel, 1983b, p. 290). Ressalta-se que em suas formulações teóricas Tajfel não se restringe aos aspectos prescritivos sobre a identidade, integrando elementos emocionais e avaliativos à dimensão cognitiva. Em relação a teoria de Tajfel, os psicólogos sociais brasileiros Mariana Bonomo e Lídio de Souza (2013), destacam que no desenvolvimento da teoria, Tajfel propõe a congregação das “dimensões do reconhecimento de pertença ao grupo (cognitivo), [da] atribuição de valência positiva ao próprio grupo e [da] negativa ao grupo opositor (avaliativa) e, finalmente, [da] manifestação de componentes afetivos vinculados a esse sistema de diferenciação e pertencimento grupais” (Bonomo & Souza, 2013, p. 404).

Nesse sentido, Anne-Marie Costalat-Founeau (1997) compreende que a identidade seria, portanto, resultado de uma construção social repleta de práticas, experiências e representações que têm a finalidade de manter os valores sociais, sendo formada na interação do indivíduo com esses valores constantemente negociados e transformados. Assim, Ghislain Mary e Anne-Marie Costalat-Founeau afirmam “Ce substrat cognitif de l'expérience vécue constitue le fondement à la fois personnel et social de l'identité, au moyen duquel peuvent se construire et s'étayer les représentations identitaires” (Mary & Costalat-Founeau, 2012, p. 21). Sendo assim, a identidade social constrói-se através do sentimento de pertença a um determinado grupo, que garante a cada membro o sentimento de unidade, continuidade e coerência (Costalat-Founeau, 1997).

Conforme Tajfel (1983a, 1983b) os grupos não existem no isolamento social, e uma maneira de atribuir valores positivos ao seu próprio grupo (ingroup/endogrupo) é através da comparação e distinção positiva na relação intergrupos. A distintividade positiva dos grupos sociais se realiza na idealização de um conjunto de categorias que lhes privilegia, e lhes confere poder, prestígio, mudança ou percepção de rigidez entre as fronteiras dos grupos. O que pode ser estabelecido é que há uma relação entre identidade pessoal, isto é, o conceito próprio do indivíduo e a sua identidade social, possibilitado pelo processo intergrupal de comparação social, garantindo a positivação da identidade por meio do viés de valorização endogrupal. Dessa maneira, para Jean-Claude Deschamps e Pascal Moliner (2009) o sentimento de pertença psicológica é fundamental nessa teoria, pois, é o que permite a unidade por meio da identidade social, fornecendo um guia para a ação dos indivíduos ao ponto de garantir as dinâmicas sociais. “Nesta perspectiva, a identidade pode ser concebida como um fenômeno subjetivo e dinâmico resultante de uma dupla constatação de semelhanças e de diferenças entre si mesmo, os outros e alguns grupos” (Deschamps & Moliner, 2009, p. 14).

O sentimento de pertença a determinado grupo resulta no compartilhamento de crenças, atitudes e vivências mediadas por uma carga valorativa. Como destacam Mariane Ranzani Ciscon-Evangelista e Paulo Rogério Meira Menandro (2011) em razão de aspectos da organização da sociedade, alguns grupos são valorizados socialmente, enquanto outros são marginalizados. Portanto, alguns grupos sociais ganham maior visibilidade e legitimidade para narrar suas histórias, enquanto outros o farão apenas diante de batalhas travadas ao longo do tempo.

Considerando os processos intergrupais — esse estudo visa conhecer as dinâmicas identitárias estabelecidas entre os filhos de ex-militantes contrários aos regimes ditatoriais na Argentina e no Paraguai, por meio das publicações nos websites da rede “H.I.J.O.S — Por la Identidad y la Justicia Contra el Olvido y El Silencio” de cada um desses países.

2 Procedimentos metodológicos

A fonte dos dados desta pesquisa são os diretórios virtuais criados e alimentados pelas organizações Hijos/Argentina1 e Hijos/Paraguai. Cada plataforma apresenta organização própria dos conteúdos, tendo sido selecionadas as seções com características semelhantes de produção e organização textual: textos voltados ao leitor externo ao grupo, informes, convocatórias, depoimentos e notícias.

Os dados foram recolhidos entre os meses de abril e junho de 2014 através do acesso aos websites na rede mundial de computadores. As informações obtidas foram agrupadas em uma base de dados de controle separada pelos países provenientes. Todos os textos das seções foram copiados e salvos em documentos únicos “sem formatação”. Nos casos em que as chamadas apresentavam links para documentos que não permitam edições, ou seja, anexos em Portable Document Format (PDF), os arquivos precisaram ser convertidos para o formato de documento editável como o auxílio do software Abbyy Fine Reader. Dessa maneira, foram criados e analisados dois corpora textuais distintos, um referente ao Hijos/Argentina e outro ao Hijos/Paraguai.

Com a finalidade de conhecer os aspectos intergrupais que organizam a construção identitária dos grupos foram procurados elementos da organização geral (estruturação de significados) nos corpora, utilizando-se da análise lexical, por meio do software ALCESTE PLUS (2014). Para Adriano Roberto Afonso Nascimento e Paulo Rogério Meira Menandro (2006) esta análise efetua um mapeamento léxico em conjuntos textuais, indicando, segundo a distribuição de um vocábulo específico, a existência de um espaço semântico característico. Ou seja, o princípio que norteia a análise empregada pelo software é que um “texto formulado por diferentes indivíduos pode apresentar pontos de vistas partilhados pelo grupo social” (Oliveira, 2013, p. 55).

O programa realiza uma Classificação Hierárquica Descendente (CHD), dispondo os resultados em forma de árvore. Tal conformação é denominada dendrograma. Segundo Lídio de Souza, Mariana Bonomo, André Mota Livramento, Julia Alves Brasil e Fabina Davel Cana (2009), nesta estruturação dos dados, podem ser observadas a apresentação das palavras representativas de cada classe (palavras plenas), a ligação entre as classes, a porcentagem de cada classe no corpus analisado e as variáveis mais representativas da classe.

A análise e interpretação dos dados foram desenvolvidas com base em elementos da Teoria da Identidade Social proposta por Henri Tajfel (1983a, 1983b), articulada à leitura dos resultados, a partir das Unidades de Contexto Elementar (UCE), isto é, fragmentos do corpus selecionados pelo programa; assim como, das palavras plenas de maior X2 (qui-quadrado2), com a finalidade de nomear as classes apresentadas pelo ALCESTE.

3 Resultados

Nesta seção apresentamos os resultados provenientes do procedimento de classificação hierárquica descendente (CHD) efetuado pelo ALCESTE para os dois corpora. São expostos os respectivos dendrogramas, seguidos de uma tabela (Anexo, Tabela 1 e 2) explicativa das classes, que em associação com as palavras plenas do gráfico, facilitam a leitura dos dados. Inicialmente, descrevemos os resultados do conjunto textual argentino, e na sequência o conjunto paraguaio. As variáveis utilizadas para a leitura dos dados foram: Número de Identificação do trecho de texto (id); País da Rede Internacional Hijos mencionado (pais_1: Argentina, pais_6: Paraguai); Conteúdo (cont_1: texto exclusivamente sobre o HIJOS, cont_2: texto sobre o HIJOS, juntamente com outros temas); Tempo (temp_1: texto relativo ao contexto passado, temp_2: texto relativo ao contexto atual).

3.1 Hijos/Argentina

O dendrograma de classes apresenta três classes organizadas em dois grupos lexicais associados (Anexo, Figura 1). Com a finalidade de descrever a relação de complementaridade expressa nas publicações analisadas, o conteúdo lexical das classes 2 e 3 foi denominado “Hijos: nuestra identidad, nuestra lucha”. Tomadas em conjunto, as palavras que compõem estas duas classes fazem menção ao contexto específico dos preceitos, atuação e realidade vivenciada pelo Hijos/Argentina; enquanto na classe 1 se observa um conteúdo mais próximo às demandas das organizações de direitos humanos como um todo.

As três classes apresentam um conjunto lexical através do qual foi possível observar os atores e o universo simbólico/ideológico da luta do agrupamento Hijos/Argentina, e a busca por valorizar-se e diferenciar-se dos demais organismos de Direitos Humanos relacionados à temática de repressão estatal.

3.2 Hijos/Paraguai

O dendrograma, demonstrado na Figura 2 (Anexo), apresenta quatro classes organizadas em dois grandes grupos lexicais associados. O conjunto de classes 2, 3 e 4, “Hijos Paraguay: nuestras acciones, nuestras memorias”, faz menção às particularidades da realidade paraguaia e do agrupamento daquela região, por tal motivo, se encontram em oposição à classe 1, cujo discurso está voltado para aspectos mais globais do grupo H.I.J.O.S. propagados através de sua Rede Internacional. A classe 2 se encontra em oposição às classes 3 e 4, já que as últimas estão relacionadas à “Dinâmica de atuação política” do grupo Hijos/Paraguai, enquanto a primeira está contida na esfera privada das motivações que fazem com que esse coletivo de pessoas se organize em torno de uma reivindicação comum.

4 Discussão

Compreender o papel que o passado tem na constituição da identidade do agrupamento HIJOS é crucial, uma vez que as ditaduras e suas reverberações na trajetória de vida de cada integrante são os principais eixos motivadores de suas existências enquanto grupos organizados.

Em análise das representações sobre a última ditadura argentina (1976-1983), através de uma linha temporal que vai dos anos de 1976 a 2007, Daniel Lvovich e Jaquelina Bisquert (2008) concluem que a memória configurada a partir dos esforços de organismos de direitos humanos é a que prevalece no cenário do país, já que a mesma foi assumida quase que por completo pelo Estado.

Para chegar a tais conclusões, Lvovich e Bisquert (2008) centralizam a análise na distinção entre o conceito de memória e história. Tanto a primeira quanto a última constituem formas de representação do passado, todavia, se distinguem por suas lógicas internas e finalidades. “Mientras la historia aborda el pasado de acuerdo a las exigencias disciplinares, aplicando procedimientos críticos para intentar explicar, comprender, interpretar, la memoria se vincula con las necesidades de legitimar, honrar, condenar” (p. 7). Nesse sentido, Lvovich e Bisquert (2008) afirmam que a partir de 1995 houve na Argentina o denominado “boom de la memoria” (p. 59), em que a temática da ditadura veio à cena, a partir de confissões de agentes do Estado sobre os crimes cometidos e debates públicos sobre a responsabilização das forças armadas.

Conforme Ana Paula Del Vieira Duque e Claudia Paiva Carvalho (2016) as marcas deixadas pelo regime ditatorial argentino, conhecido à época como Proceso de Reorganización Nacional, conjuntamente com os chamados “processos pela verdade” (juicios por la verdad), impulsionaram o processo transicional no país, fazendo daquele contexto um cenário privilegiado, “uma referência na América Latina, em razão do julgamento das violações de direitos humanos cometidas durante a ditadura e da participação ativa de vítimas, familiares e organismos de direitos humanos na luta por verdade, justiça e na promoção da memória” (Duque & Carvalho, 2016, p. 17).

Cueto Rúa (2008) afirma que se antes os discursos em torno do tema da ditadura eram pautados pelos organismos de direitos humanos vinculados à primeira geração de atingidos — militantes, familiares, Madres e Abuelas — a ampliação das reivindicações ganha novos contornos nos meados de 1990, com a implicação dos filhos dos militantes. A primeira geração de atingidos é mencionada no conjunto lexical da classe 3 do corpus Hijos/Argentina.

La centralidad de la justicia, el rechazo a pensar los conflictos políticos en términos bélicos, la despolitización de las víctimas del terrorismo de Estado, la hegemonía de la noción de derechos humanos, y la posibilidad de que los militantes de organizaciones guerrilleras pudieran ser juzgados en tanto sus prácticas eran difíciles de emerger exitosas de la lectura en clave de legalidad-ilegalidad, fueron elementos que coadyuvaron para que las memorias militantes vieran ocluida su emergencia pública. Esto empieza a romperse a mediados de los años noventa, momento en que coincide la emergencia de las memorias militantes con el nacimiento de la agrupación HIJOS. (Cueto Rúa, 2008, p. 35)

Segundo Andrea Guatavita Garzón (2014), o processo de aparição e consolidação na cena pública de grupos organizados por filhos de ex-militantes das ditaduras foi semelhante em vários países na América do Sul. Na Argentina, a reivindicação e a ressignificação das bandeiras pelas quais seus pais lutaram (democracia e sociedade mais igualitária), e a implementação do escrache como um sistema diferenciado de repúdio fizeram com que os grupos dos filhos — denominados de segunda geração — se constituíssem numa dinâmica diferenciada daquela até então prescrita pela primeira geração (Cuento Rúa, 2008; Lvovich & Bisquert, 2008).

Se por um lado os H.I.J.O.S. estão intimamente associados à ação reivindicativa das Madres e Abuelas de Plaza de Mayo, através das quais inicialmente haviam se conformado, por outro, o agrupamento tem uma forte identificação com a militância política dos anos de 1970 (Cueto Rúa, 2008; Garzón, 2014). De acordo com Alejandra Heffes (2013), o grupo H.I.J.O.S., desde a sua constituição, teve jovens nascidos nos anos prévios ou imediatamente posteriores ao golpe na Argentina, e que durante os anos de 1990, se aproximavam à idade que seus pais tinham, no momento de militância política. Tal fato foi mobilizador para esses jovens, além do contexto político da época, uma vez que “durante la primera mitad de la década del noventa, el tema de la violencia del terrorismo de Estado no había ocupado un lugar relevante en la agenda pública, 1995 fue un punto de inflexión” (Heffes, 2013, p. 12).

É a partir desse contexto social que o H.I.J.O.S. se organiza e entra na cena política enquanto organismo de direitos humanos independente, ainda com forte vinculação aos outros grupos de atingidos pelas ditaduras. Tal aspecto pode ser observado nas Classes 1 de ambos os países, “Em busca da Justiça” e “Hijos, rede internacional”. Parece haver entre os grupos Hijos/Argentina e Hijos/Paraguai uma identificação com o discurso ampliado que é repercutido pelos demais organismos de direitos humanos, no qual há valorização dos processos jurídicos de responsabilização do Estado pela violência infligida, o reconhecimento dos crimes cometidos enquanto delitos de lesa-humanidade e a luta pela memória dos seus entes. No caso específico do Hijos/Argentina, há uma clara referência às Madres de Plaza de Mayo da Línea fundadora3, enquanto que no Hijos/Paraguai são feitas menções à rede internacional de Hijos através da qual os agrupamentos se congregam e às delegações argentinas de Direitos Humanos que atuam no país.

Dessa maneira, através dos processos de comparação e categorização social (Tajfel, 1983a, 1983b), os Hijos/Argentina e Hijos/Paraguai, procuram organizar e compreender o meio social no qual estão inseridos, e se identificam com a posição ideológica emitida pelos organismos de Direitos Humanos de forma ampliada. Neste sentido, segundo Milena Bertollo-Nardi, Lídio de Souza e Maria Cristina Smith Menandro (2012) “Estamos constantemente procurando conhecer, compreender e estabelecer relações causais para as mudanças que acontecem no nosso meio social. Queremos entendê-lo e, geralmente, da forma mais simples possível; por isso, atribuímos características para os grupos com os quais nos relacionamos” (p. 304). .

Assim, na classe “Em busca da Justiça” (Hijos/Argentina) e “Hijos, rede internacional” (Hijos/Paraguai), observa-se o sentimento de filiação à rede H.I.J.O.S., que os proporciona reconhecimento enquanto organismo de Direitos Humanos, conforme se nota, pela presença da variável cont_2 (texto sobre Hijos em conjunto com outros temas) e da constante menção às palavras de ordem dessas organizações “por justicia, contra el olvido y el silencio”.

A partir do processo de autopercepção, o grupo delineia as diferenças entre “nós” (grupos de Direitos Humanos) e “eles”, enfatizando positivamente suas características. É a partir dessa diferenciação entre “nós” e “eles”, que se pode observar se pode observar o enaltecimento dos membros do próprio grupo em detrimento dos pertencentes ao exogrupo. As relações de conflito intergrupal estão orientadas pelas representações sobre o exogrupo, formadas, principalmente, por conteúdos negativos especificados no léxico destacado na análise, na figura dos “genocidas”, “cómplices”, “beneficiarios” e “instigadores” da ditadura de Stroessner, ou nos “represores”, “polícia”, “torturadores” do contexto argentino. A categorização social dos H.I.J.O.S enquanto organização alicerçada na luta por justiça e respeito aos direitos humanos, contribuiria para a identidade social de “filhos de ex-militantes”, sendo uma parte fundamental do autoconceito, que os unem enquanto geração de ex-militantes políticos.

Cristal Aragão e Ângela Arruda (2008) afirmam que para Tajfel, a relação entre a categorização social do grupo com o autoconceito é a motivação necessária para a formação de uma identidade social positiva, que se reflete em um movimento de distintividade do seu grupo com relação aos demais. Dessa maneira, a identidade social e o sentimento de pertença grupal estão interligados, já que a valorização dos grupos Hijos/Paraguai e Hijos/Argentina proporciona, em última instância, uma construção de identidade positiva para cada indivíduo participante. Assim, por meio dessa identidade comum, constitui-se uma identidade social no grupo, cumprindo a função de manter a imagem positiva e garantir distintividade.

Esse aspecto positivo possui, portanto, uma função identitária indispensável, pois, proporciona o aumento da autoestima daqueles que participam do grupo (Tajfel, 1983a, 1983b). O autor ainda complementa dizendo que todos nós procuramos nos filiar justamente aos grupos que possam favorecer positivamente a nossa autoimagem e aumentar a nossa autoestima (Tajfel, 1983a, 1984b). Portanto, parece que se identificar com a rede H.I.J.O.S., e, por consequência, com as organizações de direitos humanos de denúncia e combate à violência de Estado, é um importante aspecto para o sentimento de pertencimento do grupo Hijos/Argentina e Hijos/Paraguai.

Apesar de manterem a mesma tendência de organizarem a sua identidade social de “filho de ex-militante” em função da sua filiação aos grupos de direitos humanos, no caso específico do Hijos/Paraguai, o grupo alça o Hijos/Argentina a um status de referência. Pautando, portanto, o conteúdo das suas publicações aos parâmetros afins à pioneira organização argentina (Hijos/Argentina). Assim, se nas publicações argentinas são construídos os parâmetros pelos quais os grupos de familiares e ex-militantes se estruturam, para a realidade paraguaia essas referências são absorvidas via articulações internacionais da rede H.I.J.O.S.

Tal peculiaridade do grupo Hijos/Paraguai coaduna com aquilo que autores como Carla Antonella Cossi (2012) e Paulo Renato da Silva (2014) têm apontado sobre as configurações dos grupos de direitos humanos no Paraguai. No trabalho sobre exilados paraguaios na Argentina, país de destino da grande maioria dos perseguidos pelo regime stronista, Cossi (2012) ressalta que os exilados se organizaram política e socialmente no país de destino e mantiveram contatos com o país de origem, sobretudo nas regiões de fronteira. Na passagem entre os anos de 1980 e 1990, a militância desenvolvida na Argentina fez com que a luta pela democracia no Paraguai, após a abertura política, assumisse um contorno de uma causa latino-americana, fazendo com que a experiência argentina pautasse o tom da causa (Cossi, 2012; Silva, 2014).

Não obstante, é preciso reiterar que, mesmo havendo uma identificação entre os agrupamentos H.I.J.O.S. desses dois países, com outros grupos organizados em torno da causa da justiça de transição, há uma clara reinvindicação da sua própria identidade.

Como dito acima, historicamente, o organismo H.I.J.O.S foi concebido no boom das memórias e disputas por legitimidade de versões sobre as ditaduras militares na América do Sul. Contudo, Andrea Raina (2012) sinaliza que, desde o início de sua criação na Argentina, o grupo carrega consigo duas heranças pelas quais “una intentan separarse y la otra les otorga legitimidad dentro del movimiento de derechos humanos. Ambas los ubican en el lugar de definir sus valores y preferencias” (p. 8).

A primeira herança estaria relacionada ao que a autora chama de “peso” por ser filho de ex-militante. Entendida como o lugar de dor e de nostalgia, tal carga os faria associar-se diretamente aos demais grupos de familiares e afetados pelas ditaduras. Já a segunda herança estaria baseada no “relevo generacional” (Raina, 2012, p. 8) inerente ao grupo. Luciano Alonso (2010) sugere essa mesma reflexão ao afirmar que frente ao envelhecimento dos militantes de organizações como, por exemplo, as Madres e Abuelas (Classe 3, Hijos/Argentina), os H.I.J.O.S. aparecem na cena pública como uma renovação geracional. Figurando, portanto, não somente como um grupo herdeiro das histórias dos ex-militantes e familiares, mas também, como legítimos atores na constituição da história coletiva sobre o período (Raina, 2012)

Na pesquisa dos conteúdos divulgados nos websites Hijos/Argentina e Hijos/Paraguai foi possível observar essa dupla herança mencionada por Raina (2012) e Alonso (2010). Esse movimento de distintividade frente aos organismos de direitos humanos — entendido pelos autores como primeira herança — pode ser notado na classe 2 “Convocações, apoio e articulações do grupo” do Hijos/Argentina, assim como no conjunto das classes 3 e 4 do Hijos/Paraguai, denominado “Dinâmica de atuação política”.

Enquanto a segunda herança é a que proporciona, não somente a diferenciação frente aos outros grupos de direitos humanos, como também, a especificação de cada agrupamento na rede internacional organizada sob a sigla H.I.J.O.S., podendo ser compreendida no conjunto argentino das classes 2 e 3, “Hijos: nuestra identidad, nuestra lucha”; e no caso paraguaio, das classes 2, 3 e 4, nomeada “Hijos Paraguay: nuestras acciones, nuestras memorias”.

Quanto à primeira herança, Bertollo-Nardi et al. (2012) conduziram um estudo sobre identidades políticas de jovens brasileiros que pode ser útil para a compreensão da complexidade dos agrupamentos H.I.J.O.S. A partir da proposta teórica de Tajfel (1983b), os autores, concebem a identidade política como resultante da diferenciação e da comparação entre partidos e posições ideológicas. Logo, os grupos sociais estão em constante relação, pois “não há nenhum grupo que viva sozinho [… assim] os aspectos positivos da identidade social e a reinterpretação de atributos e empenhamento na acção social só têm sentido relacionados, ou comparados com outros grupos” (Tajfel, 1983b, p. 291). Para analisar as relações partidárias, portanto, é preciso “pensar na competição existente por legitimidade, espaço e poder” (Bertollo-Nardi et al., 2012, p. 304).

Ainda segundo Bertollo-Nardi et al. (2012), a mera identificação dos jovens com filiação aos partidos de esquerda não os torna um grupo homogêneo, devido à tensão intragrupal de diferenciação social. Similarmente, para o H.I.J.O.S., ainda que hajam elementos compartilhados entre organismos de direitos humanos, os coletivos de filhos de ex-militantes se propõem a ocupar um espaço mais amplo no debate público, diferenciando-se, atualizando causas e congregando outros atores às suas ações.

Se para Bertollo-Nardi et al. (2012) dentro da esquerda brasileira, a disputa ideológica parece centrar-se na oposição esquerda radical versus esquerda consciente, na pesquisa aqui apresentada, ainda que não haja conflito aparente entre os grupos Hijos/Argentina e Hijos/Paraguai e as demais organizações de direitos humanos, os agrupamentos se distinguem a partir da sua organização interna, que privilegia a horizontalidade e rechaça uma estrutura hierarquizada entre os membros (diferentemente do que é visto no movimento das Madres) e das suas ações coletivas de escraches (Cueto Rúa, 2008). Essas seriam, então, as duas diretivas encontradas em todos aqueles grupos que partilham da rede nacional e internacional H.I.J.O.S.

De acordo com Tajfel (1983b), é essa perspectiva comparativa que estabelece a ligação entre categorização social e identidade social, possibilitando a identificação de quem pertence ou não a um grupo. “Um grupo torna-se grupo no sentido em que existe a percepção de que tem características comuns, ou um destino comum, sobretudo porque existem outros grupos no meio” (Tajfel, 1983b, p. 294). A distintividade positiva do endogrupo H.I.J.O.S. também tem íntima ligação com as relações que eles estabelecem com determinados setores da sociedade, como observado nos trechos acima. Como herdeiros da primeira geração de atingidos, eles reinterpretam a agenda política de luta, atualizando-a e ressignificando-a no cenário político de cada país.

As publicações encontradas nos websites parecem corroborar com o que Raina (2012) apontou sobre os membros da regional H.I.J.O.S. Santa Fé (Argentina). Desde sua fundação, a organização procurou ser reconhecida por alguns de seus aspectos políticos, como a utilização de escraches, e, aspectos estéticos, como a realização de exposições, produção de documentários, intervenções artísticas (Raina, 2012). Essas características são partilhadas pela rede como um todo, e fizeram com que os H.I.J.O.S., especialmente o grupo argentino, ganhassem espaço e legitimidade, a ponto de serem caracterizados como “la organización fundadora del carácter generacional de los organismos de derechos humanos a nivel internacional” (Garzón, 2014, p. 71). Dessa forma, a identificação com a geração dos pais e o reestabelecimento de noções de lei, justiça e política são os eixos sob os quais a organização H.I.J.O.S. se orienta.

Ana Amado (2003) destaca a importância das ações diferenciadas que se tornaram marca indelével do agrupamento, assim como a relevância da divulgação e reconhecimento das histórias pessoais para o fortalecimento tanto do grupo em si, como da memória sobre os períodos das ditaduras.

La repetición [del pasado militante] puede ser leída en la posición de identidad como “hijos” que los reúne y los nombra, en la reivindicación que muchos de ellos sostienen de la opción revolucionaria de la generación de los setenta, en el modelo repetitivo y querellante de los escraches… La modalidad de su reclamo es conocida: intervención en lugares específicos de la ciudad, politización del espacio con operaciones que delimitan y marcan frontera… seguido de la puesta en común de historias personales que se hacen colectivas. (Amado, 2003, p. 144)

Essa mesma dimensão foi evidenciada no estudo dos conteúdos encontrados nos websites H.I.J.O.S por Ingrid Gianordoli-Nascimento et al. (2016), em que a publicação de experiências e memórias pessoais na Internet acaba por promover o fortalecimento das identidades sociais, bem como, o surgimento de novas versões sobre a memória histórica das ditaduras e das violações de direitos humanos na América Latina.

Este aspecto sinalizado por Amado (2003) e Ingrid Gianordoli-Nascimento et al. (2016) se encontra no arcabouço da segunda herança carregada pelo grupo, compreendida pelo conjunto das classes “Hijos: nuestra identidad, nuestra lucha” (Hijos/Argentina) e “Hijos Paraguay: nuestras acciones, nuestras memorias” (Hijos/Paraguai), por intermédio das quais são notados os processos de diferenciação dentro do endogrupo H.I.J.O.S. a partir do acionamento das especificidades e conjunturas de cada país.

Tajfel (1983b) aponta que as diferenciações intergrupo não são totalmente rígidas pois, o estabelecimento de distinções entre grupos em interação podem ser “posições onde as semelhanças ou diferenças, que em princípio, poderiam ser totalmente ‘neutras’ (entre, por exemplo, línguas, paisagens, bandeiras, hinos, selos, equipas de futebol), passam a ser dotadas dum significado emocional, pelo facto de se referirem a um valor supremo” (p. 312). Assim, a diferenciação cognitiva, avaliativa e emocional se localiza na necessidade que os indivíduos apresentam em dar significado social à situação intergrupo. Essa necessidade é satisfeita “pela criação de diferenças intergrupo quando tais diferenças não existem de facto, ou pela atribuição de valor e de realce a quaisquer diferenças existentes” (Tajfel, 1983b, p. 313). A distribuição das classes e suas articulações através das peculiaridades de cada agrupamento podem assumir essas características.

No caso do grupo Hijos/Argentina são elencados elementos de valorização das ações realizadas no âmbito nacional, como o que eles denominam de restituição de identidades de hermanos apropriados (confirmação via testes genéticos de progênie com desaparecidos políticos), e igualmente a valorização da luta pela responsabilização judicial de sujeitos e organizações que tiveram implicações com a violência de Estado. Já no agrupamento Hijos/Paraguai observam-se as mesmas estratégias de valorização endogrupal, contudo, há o uso do passado através de relatos pessoalizados de seus próprios integrantes para promoção da legitimidade da organização frente à sociedade paraguaia. Essa particularidade marca os conteúdos do conjunto “Hijos Paraguay: nuestras acciones, nuestras memorias”, sobretudo, na classe 2, “Histórias pessoais”.

Para compreender o emprego das narrativas sobre as vivências na ditadura como processo de valorização da identidade, é preciso conhecer o contexto social do Paraguai durante e após o regime de Alfredo Stroessner e do Partido Colorado, por ele presidido.

Nos anos de stronismo o número de cidadãos paraguaios detidos, deportados ou exilados chegou a quase um terço da população, conforme aponta Enrique Serra Padrós (2008). A longevidade do regime imposto no Paraguai fez com que várias gerações de paraguaios sofressem pela violência estatal generalizada. Como destacam Alfredo Boccia Paz e Rosa Palau Aguilar (2008) diferentemente de outros países da América do Sul, o regime de Stroessner só foi derrubado em fevereiro de 1989, através de outro golpe militar, quando todos os outros países da região, com exceção do Chile, já avançavam em suas respectivas transições democráticas (Boccia Paz & Palau Aguilar, 2008). Dessa forma, não se pode considerar que o stronismo foi uma exceção abrupta das liberdades e das instituições democráticas no Paraguai, uma vez que na história paraguaia são encontrados mais períodos de governos autoritários e militares do que democráticos.

Miguel López (2010) ressalta que a manutenção do controle social pela ditadura stronista impôs, dentre outras coisas, a filiação partidária ao Partido Colorado como premissa para trabalhar no serviço público, ter acesso às universidades e criar associações profissionais, sindicatos, ligas camponesas, dentre outros. Dessa forma, o Partido Colorado se estabeleceu como a base social da ditadura militar paraguaia, e permaneceu como tal até os dias correntes. O funcionamento atual dos organismos governamentais é similar à época da ditadura, porém, sem a presença do medo institucionalizado e das repressões massivas aos setores descontentes ao governo. Contudo, o aparelhamento colorado do Estado “montado sob a ditadura continua vigente na estrutura política, no poder e na prática dos caudilhos políticos da chamada etapa democrática” (López, 2010, p. 464).

Boccia Paz e Palau Aguilar (2008) reiteram essa realidade do Paraguai, ao afirmarem que a falta de convívio da sociedade em uma organização social democrática pode explicar as dificuldades de reconhecimento dos governos durante a transição pós-Stroessner e o apoio contínuo que o Partido Colorado recebe, se mostrando “duradero hasta el punto que en las elecciones generales de abril de 2008 continuó siendo la formación con mayor apoyo electoral” (Nickson, 2010, p. 292).

Nesse contexto em que a presença de estruturas políticas e sociais do período ditatorial ainda é constante, o grupo Hijos/Paraguai manifesta-se na cena pública ocupando esse local social de denúncia e combate às continuidades da repressão. Para tanto, utilizam das narrativas do passado tanto da geração de seus pais, quanto sobre suas próprias experiências para problematizar a realidade atual. O Hijos/Paraguai surge então com uma dupla função: a de ser porta-voz das denúncias das violações de direitos humanos cometidas no país e mantenedor da memória sobre aquele período. Dessa forma, nos relatos encontrados na página web do Hijos/Paraguai há muitos elementos que trazem uma carga emocional positiva aos conteúdos de memória publicados pelo grupo.

Joel Candau (2008) aponta que as memórias que carregam em si esse cunho geracional, também expressam uma memória de fundação, que tem seu lugar no jogo identitário. Para o antropólogo, a memória geracional se estende para além da família, pois, admite que o pertencimento a um elo de gerações sucessivas seja contingência para que grupos ou indivíduos sintam-se herdeiros, ligados a esses laços de pertença. Para Candau (2008), seria essa consciência do peso das gerações anteriores que promove manifestações que expressam forte carga identitária como “las generaciones precedentes trabajaron para nosotros o nuestros antepasados lucharon por nosotros” (Candau, 2008, p. 139). Termos dessa natureza, juntamente com palavras que remetem às emoções evocadas por essas memórias foram encontradas na Classe 2 do Paraguai e também na Classe 3 da Argentina. Palavras como “felicidade” e “alegria” são mencionadas nos conteúdos sobre processos judiciais vencidos, hermanos recuperados, ou mesmo, quando existe reconhecimento de legitimidade do grupo. No entanto, quando as publicações se referem aos familiares desaparecidos ou mortos, às tentativas de deslegitimação do grupo pela imprensa, palavras como “tristeza”, “saudade” e “pesar” são acionadas.

Estes resultados corroboram os encontrados por Rosa Cabecinhas, Marcus Lima e Antônio Chaves (2006) sobre a importância da memória para a valorização da identidade. Ao pesquisarem as representações que brasileiros e portugueses têm sobre o passado, eles demonstraram que a tonalidade emocional de um acontecimento depende das pertenças sociais, políticas, geográficas e econômicas dos grupos envolvidos. Para os autores, a tonalidade emocional “depende ainda, da forma como cada grupo de pertença conceptualiza o papel que desempenhou no acontecimento em causa” (Cabecinhas, Lima & Chaves, 2006, p. 15), se foi agente ou vítima, por exemplo. Ciscon-Evangelista e Menandro (2011) complementam essa visão ao afirmarem que, “quanto mais profunda e mais emocionalmente comprometida for a identificação com o grupo, maior a possibilidade de atribuição de características negativas ao exogrupo” (p. 194).

Dessa maneira, as narrativas do passado associadas com conteúdos pessoais e emocionais nas publicações dos grupos H.I.J.O.S. permitem confirmar tanto o carácter social da memória quanto sua importância nas dinâmicas identitárias. Nesse sentido, é importante entender o posicionamento do grupo ao reivindicar um lugar próprio, enquanto organismo de direitos humanos autônomo, uma vez que esse reconhecimento dimensiona a escala geracional dos grupos que tem legitimidade para tratar do tema das ditaduras, suas violações e reverberações nos contextos sociais da atualidade. Assim, os H.I.J.O.S. ao mencionarem suas histórias, sua estrutura organizacional, suas ações e suas versões sobre o passado subjetivam a sua demanda, “paso imprescindible para recuperar una identidad arrasada (la de los padres) y otra que se pretendió arrebatar (la de los hijos), para partir desde el “cada uno” al sujeto colectivo (Amado, 2003, p. 142).

5 Reflexões finais

Nos processos de democratização dos países que passaram por ditaduras, a questão da memória é objeto de disputa e debate. A legitimidade sobre as versões do passado aparece como um dos principais objetivos de grupos, como aqueles constituídos por vítimas e familiares de vítimas, já que a busca por reconhecimento de seu protagonismo na história e de sua inclusão na memória do país, vem afirmando suas identidades.

Tendo em vista que a construção da história de cada grupo é sempre um processo comparativo, dependente das relações intergrupais estabelecidas, a forma como os H.I.J.O.S. interpretam e comunicam o seu passado, determina seu posicionamento no presente e suas estratégias para o futuro. Desta forma, nas palavras de Rosa Cabecinhas (2006) definem-se não somente “as relações dentro do grupo, como as relações com os outros grupos, numa dinâmica onde, conforme o momento histórico, pode prevalecer a estabilidade ou a mudança, a resistência ou a adaptação, a preservação das fronteiras ou a sua diluição” (Cabecinhas, 2006, p. 184). A reconstrução e valorização do próprio passado, portanto, carregam em si uma função identitária imprescindível para existência de coletivos organizados de filhos de ex-militantes na Argentina e no Paraguai, pois, é nesse jogo de relações intergrupais que, invariavelmente, a identidade social vai sendo construída.

Ainda que essa análise tenha se limitado aos conteúdos encontrados no ambiente on-line, as relações tecidas pelos agrupamentos Hijos/Argentina e Hijos/Paraguai — ora se identificando com os organismos de direitos humanos de maneira ampliada, ora atuando junto a outros grupos organizados e setores da sociedade civil — permitem pensar as identidades como processos flexíveis e relacionados ao contexto social em que são construídas. Como sinalizado por Tajfel (1983a, 1983b) o pertencimento aos grupos não é determinado apenas por relações pautadas no universo material, podendo se configurar a partir de filiações ideológicas e psicológicas.

A apropriação do ciberespaço pelo agrupamento H.I.J.O.S demonstra uma retroalimentação de conteúdos que extrapolam as relações sociais tradicionais, inaugurando um novo espaço para a valorização endogrupal e, portanto, para o surgimento de diferenciações. Como destacam Fábio Malini & Henrique Autoun (2013) a criação de páginas web como as de Hijos/Argentina e Hijos/Paraguai parece ser, portanto, reflexo de:

Experiências de resistência que se desenvolvem no interior de plataformas de comunicação em rede, cuja principal marca é a produção de informação baseada em processos de cooperação social […] que resultam em redes de valorização social e de produção de subjetividades alternativas. (Malini & Antoun, 2013, p. 194)

Dessa maneira, os websites criados e alimentados por grupos organizados parecem ser apropriações do ciberespaço como forma de construção e expressão da memória e identidade grupal.

Cabe salientar que esta pesquisa não esgota as possibilidades de tratamento dessas temáticas, tendo em vista, que as características do material coletado e a proposta analítica apresentaram peculiaridades e limitações na compreensão das relações intergrupais, que sob outras abordagens poderiam revelar aspectos complementares dos processos psicossociais investigados.

6 Anexo

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Figura 1

Dendrograma de Classificação Hierárquica Descendente, HIJOS Argentina

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Figura 2

Dendrograma de Classificação Hierárquica Descendente, HIJOS Paraguai

Classe Descrição UCE

Classe 1
Em busca da Justiça

Elementos referentes aos julgamentos dos crimes de lesa-humanidade e aos locais reconhecidos por terem abrigado ex-centros clandestinos de detenção, tortura e extermínio. Unité textuelle n° 598 X2 = 27 *id_222 *pais_1 *cont_2 *temp_2

Primer juicio oral en la megacausa esma a donde vayan los iremos a buscar el proximo 18_de_octubre, las 8.30 hs. En los tribunales de la calle comodoro comenzaran las audiencias del primer juicio oral de la megacausa esma.

Classe 2
Convocações, apoio e articulações do grupo
Relatos de descontentamento diante de aspectos da sociedade e do Estado contrários aos ideais de direitos humanos e bem-estar social; e parceria com outras organizações e setores. Unité textuelle n° 26 X2 = 21 *id_3 *pais_1 *cont_2 *temp_2

Así los ponemos al lado nuestro, como compañeros y compañeras, no como héroes inalcanzables, sino como militantes comprometidos con las causas justas. Luchamos mucho por obtener memoria, verdad y justicia, por no tener un país condenado a la impunidad.
Classe 3
Quem somos nós
Narrativas de forte carga emotiva; valorização da identidade do grupo e menção a outros familiares. Unité textuelle n° 531 X2 = 68 *id_197 *pais_1 *cont_1 *temp_2

Otro hijo de desaparecidos recupero su identidad. comunicado de prensa 10_de_septiembre_de_2008 otro hijo de desaparecidos recupero su identidad los hijos e hijas por la identidad y la justicia contra el olvido y el silencio regional capital federal en la red nacional, queremos comunicar con inmensa alegría que otro hijo de desaparecidos, nacido en cautiverio, ha recuperado su identidad.

Tabela 1

Conjunto de classes referentes ao Hijos/Argentina

Classe Descrição UCE
Classe 1
Hijos, rede internacional
Demandas e palavras de ordem da organização internacional H.I.J.O.S - Por la Identidad y la Justicia Contra el Olvido y El Silencio Unité textuelle n° 103 X2 = 91 *id_377 *pais_6 *cont_2 *temp_1

Nuestra lucha es por devolvernos el brillo de sus miradas. por devolvernos la magia de sus sonrisas. no olvidamos. no perdonamos . No nos reconciliamos. Hijos por la identidad y la justicia contra el olvido y el silencio regional_paraguay
Classe 2
Histórias pessoais
Experiências traumáticas vivenciadas pelos hijos paraguaios durante os anos de regime stronista; uso constante do pessoalismo. Unité textuelle n° 230 X2 = 37 *id_384 *pais_6 *cont_1 *temp_1

Fue hace mucho! memoria selectiva. Hace poco me entere de-que mi papa tuvo otra novia desaparecida, con la que-se caso. Ella queda embarazada y se la llevan. Mi papa se escapa de ese operativo. el iba y venia en las relaciones. capaz porque todos iban cayendo.
Classe 3
Nossa organização, nossas ações
Solicitações judiciais, atividades e feitos institucionais realizados pelo grupo; e denúncias dirigidas à imprensa paraguaia. Unité textuelle n° 422 X2 = 24 *id_395 *pais_6 *cont_2 *temp_2

1_de_noviembre_de_2013 fecha de publicación de la secretaria de derechos humanos de la provincia de Buenos Aires, otorgó 3 resoluciones sobre indemnizaciones a 3 de nuestros compañeros y hermanos
Classe 4
Contexto paraguaio e a esfera pública
Conteúdos relacionados ao cenário político da região e a conjuntura histórica dos períodos ditatoriais no país. Menciona o apoio norte-americano ao regime stronista. Unité textuelle n° 784 X2 = 52 *id_419 *pais_6 *cont_1 *temp_2

Económicamente libre y políticamente soberana! Libre del intervencionismo político y económico de las agencias norteamericanas! el financiamiento extranjero es aceptable en tanto y cuanto no limite las luchas sociales pero los intereses de la usaid no son los de un país que avance, sino de un país que dependa y se someta a las ordenes y decretos de los Estados_Unidos

Tabela 2

Conjunto de classes referentes ao Hijos/Paraguai.

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