Este texto apresenta a metodologia e alguns dos resultados encontrados em uma pesquisa interdisciplinar denominada “Contadores de histórias”, que iniciou como um grupo de trabalho voluntário ligada ao Curso de Psicologia em uma universidade brasileira e após estruturou-se como pesquisa no âmbito de um programa de pós-graduação. O grupo de contadores de histórias atuou durante os anos de 2003 a 2009 e serviu como cenário para três dissertações de mestrado, além de vários artigos e apresentações. As oficinas foram realizadas em diversos coletivos, tendo por foco o trabalho feminino, a violência contra as mulheres, o racismo e agravos que incidem na população feminina como HIV/aids. Constituiu uma intervenção psicossocial, na qual se apostou nas possibilidades de mudança, através da rememoração e ressignificação das histórias de vida, tanto dos contadores, quanto dos ouvintes (Benjamin, 1980; Marinas & Santamaria, 1995; Ochs, 2003).
Neste ensaio, apresentamos o referencial teórico-metodológico das narrativas e oficinas que serviram de base para o trabalho, descrevemos os cenários e objetivos de alguns dos grupos de contadores de histórias e como foi conduzido o processo grupal. A seguir, relatamos algumas das oficinas, como foram produzidas e os efeitos que geraram nas participantes e nos oficineiros. Ao final, na seção que denominamos “sínteses”, elencamos potências que identificamos para operar com este método, mas também os limites e dificuldades.
O objetivo deste texto é apresentar a ferramenta “contadores de histórias” para trabalhar com coletivos de mulheres, principalmente àquelas em situação de violência e vulnerabilidades. Em muitos locais, o acolhimento de mulheres nos serviços tem se pautado apenas em entrevistas individuais. A abordagem individual pode acarretar um tempo reduzido de interação entre profissionais e usuárias de serviços, assim como dificuldades de acesso e permanência em filas de espera, limitando a troca de experiências entre iguais, uma das potencialidades do dispositivo grupal.
Este texto se baseia na experiência de inúmeras oficinas de contação de histórias com diferentes sujeitos, cenários e temas, embora nem todos estes grupos sejam apresentados neste trabalho. Mulheres e filhos respondendo a medidas socioeducativas (Meneghel et al., 2000); mulheres em situação de violência (Meneghel, Barbiani et al., 2003; Meneghel, Barbiani et al., 2005), militantes de movimentos sociais (Meneghel & Iniguez, 2007), mulheres negras em situação de vulnerabilidade e racismo (Meneghel, Farina & Ramão, 2005; Ramão, Meneghel & Oliveira, 2005; Oliveira, Meneghel & Bernardes, 2009), mulheres vivendo com HIV (Meneghel, Farina, Silva et al., 2008) adolescentes em conflito com a lei (Lise & Meneghel, 2012), usuários de um Centro de Atenção Psicossocial (Moraes & Meneghel, 2009).
A psicologia social feminista tem apontado a importância de operar com grupos, os quais agregam ao trabalho uma perspectiva coletiva e estimulam a interação entre as participantes, que por sua vez, traz novos aportes e contribuições à pesquisa. Dentre as intervenções psicossociais grupais, destacam-se os grupos focais, os grupos de discussão e as oficinas, em contraposição a abordagens focadas nos indivíduos (Wilkinson, 1998).
A pesquisa feminista também tem articulado uma multiplicidade de métodos e técnicas para o trabalho social e de pesquisa, pensando o conhecimento como transicional, provisório e parcial, um processo no qual os sujeitos mais importantes não são os individuais, mas os coletivos e grupais (Oleson, 2003/2006).
A pesquisa com os contadores de histórias alinha-se aos referenciais participativos que permitem aos falantes posicionarem-se como sujeitos do discurso dando voz aos excluídos, os quais, neste tipo de prática, estão autorizados a contar suas histórias segundo seu ponto de vista. Dessa maneira, a investigação narrativa é um processo cooperativo no qual as pessoas vivem e contam histórias ao mesmo tempo, a partir da ideia de que somos construídos pelas histórias que contamos ou que nos foram contadas para e sobre nós, de tal modo que em cada pessoa as narrativas se entrecruzam e dialogam entre si (Brockmeier & Harre, 2003; Larrosa et al., 1995).
Histórias não acontecem simplesmente, são contadas, embora nem sempre esteja explícito quem é e onde está o contador da história. Às vezes, o narrador é uma só pessoa, outras vezes a história é criada conjuntamente ou cooperativamente por um coro de vozes, fato que Mickail Bakhtin (1983/2006) chamou de princípio dialógico do discurso. Essa asserção reforça as premissas da psicologia narrativa de que há um eu narrador e um eu narrado, e que através do diálogo o discurso e os significados vão sendo produzidos (Bruner, 1990; Ferreira & Grossi, 2004; Gergen, 1994).
As histórias constituem ferramentas para recuperar a memória individual e a grupal, construídas discursiva e coletivamente. A memória ajuda a compor a narração, estabelece uma conversação com o passado, mostra a chave para interpretá-lo e quais as credenciais que avaliam sua credibilidade. A construção da narrativa, não é um esquema de causa-efeito, mas a busca de um significado para a própria vida (Carvalho, 2003).
Histórias de vida podem ser pensadas como pedaços de ruínas biográficas (Gagnebin, 2004), fragmentos de conhecimento de caráter contraditório, que na ação reconstrutiva, organizada no sentido da totalidade, não descarta nada, todos os elementos são aproveitados, mesmo os secretos, os sem sentido, os inferiores ou vergonhosos (Billig, 1988; Certeau, 1994/2004).
As narrativas ajudam a enfrentar mecanismos de dominação/exploração como os relacionados a gênero, à raça e à classe social. Dessa maneira, ao construir oficinas de contadores de histórias, nosso objetivo era instigar a reflexão crítica e a busca de soluções coletivas para as violências e outras vulnerabilidades vividas pelas mulheres, utilizando a perspectiva de gênero. Além disso, enriquecer a caixa de ferramentas dos trabalhadores sociais e da saúde com a experiência das narrativas e histórias dos contadores.
Acreditamos, portanto, que oficinas de contadores de histórias usadas no trabalho de grupos de mulheres e de militantes feministas constituem um poderoso dispositivo de transformação que atua tanto em nível individual quanto em relação às desigualdades de gênero socialmente instituídas.
Consideramos gênero, o conceito escravo da teoria e da pesquisa feminista, (Oleson, 2006) como um tema gerador, a partir do qual escolhemos as histórias a serem narradas em grupos de mulheres. Em relação a gênero, assumimos a posição que atribui ao patriarcado a manutenção do sistema de dominação/exploração das mulheres, sem refutar aspectos culturais, principalmente no que se refere à capacidade das mulheres de resistir aos padrões instituídos.
Operar com a categoria gênero pressupõe a desnaturalização das relações entre homens e mulheres e o entendimento de que identidades sexuais são construídas histórica e socialmente. O conceito de gênero, acrescido dos recentes insights que apontam seu caráter performativo e socialmente construído, é uma ferramenta potente para explicar as relações de poder, representa uma recusa ao essencialismo biológico e ao sexismo, além de visibilizar a violência como mecanismo social de controle e subordinação das mulheres (Biglia & San Martin, 2007; Scott, 1990).
Grupos de reflexão constituídos por mulheres foi uma abordagem proposta pelo movimento feminista desde maio de 68, quando foram organizados encontros de mulheres para discutir as questões referentes ao feminino e interrogar aspectos da ideologia patriarcal invisibilizados pela cultura.
Os grupos de reflexão diferem de outros tipos de grupos como o grupo focal ou os grupos psicoterápicos porque se propõem a um diálogo horizontal entre mulheres, com temas escolhidos por elas e que as afetam, partilhando experiências, buscando soluções conjuntas a problemas, podendo produzir efeitos terapêuticos e mudanças radicais na vida das participantes.
Consideramos, portanto, que a estratégia grupal representa uma ferramenta potente para a reflexão crítica, com o objetivo de encontrar formas para enfrentar as hierarquias de poder e os mecanismos de opressão que continuam incidindo sobre as mulheres.
As oficinas de contação de histórias podem ser consideradas uma abordagem qualitativa de pesquisa, uma estratégia de conhecimento em que participantes e pesquisadores estão envolvidos de modo cooperativo. Está ancorada nos referenciais da pesquisa-ação (Brandão & Streck, 2006; Morin, 2004; Villasante & Garrido, 2002) e da pesquisa-participante (Thiollent, 1980), um modo de fazer pesquisa estratégico, engajado, participativo e dialógico. A pesquisa ação é uma tentativa de solução de questões específicas de grupos sociais alijados do poder e, nos dias atuais, tem sido utilizada no trabalho com as minorias: mulheres, migrantes, grupos étnicos e pessoas em situação de vulnerabilidade.
As oficinas têm sido consideradas dispositivos coletivos de trabalho determinados por práticas histórico-sociais utilizadas para estimular a autonomia dos participantes através da dialogicidade e da reinvenção do cotidiano (Caprara & Veras, 2005; Jeolás & Ferrari, 2003; Rauter, 2000).
Nesse tipo de trabalho não há um protocolo rígido e o roteiro vai sendo construído durante a própria intervenção, já que está implícita a escuta e a participação de todos os membros do grupo. Desta maneira, em cada uma das oficinas, propusemos algumas etapas provisórias, sabendo que elas seriam reformuladas durante o processo investigativo.
Realizamos estas oficinas em espaços institucionais e de organizações não governamentais brasileiras que militam em temáticas referentes a direitos humanos, gênero, racismo e outras vulnerabilidades. Antes de começar a intervenção, despendemos um tempo expressivo nos bastidores preparando a equipe de pesquisadores-atores, falando de nossos medos e angústias, objetivos e afetos, discutindo a prática, fazendo contatos e preparando o campo.
Cada uma das atividades foi planejada de modo participativo com as equipes das instituições parceiras. Nesta etapa, discutíamos as expectativas e os desejos dos parceiros, procurando construir uma proposta que contemplasse os objetivos de todos os envolvidos. Trabalhamos com registros visuais (gravação, fotografias e/ou filmagem), respeitando a privacidade dos participantes e anotamos as percepções individuais em Diários de Campo. Operamos com a arte e o ritual, como dispositivos para ajudar a entender e a ressignificar a dor e a doença, a enfrentar as violências e as desigualdades. Uma das oficinas foi realizada na rua.
O material produzido nas oficinas foi analisado à luz dos pressupostos teórico-metodológicos da psicologia discursiva, na qual assume dimensão central o estudo da linguagem, enquanto constituinte de práticas sociais produtoras da realidade e da construção de sentidos (Iñiguez, 2004; Spink, 1998/2004).
A leitura atenta dos diálogos produzidos e transcritos permitiu a identificação dos temas principais que apareceram nas sessões de contação de histórias, já que os ouvintes utilizaram as histórias como gatilho para outras histórias, associações e narrativas. A partir desses temas, buscamos caracterizar os repertórios usados nas conversas, composto pelos termos, vocábulos e figuras de linguagem, sem esquecer as metáforas, as ironias, as reticências, as hesitações e os silêncios (Iñiguez, 2004; Potter & Wheterell 1987).
Buscamos entender o que as histórias alavancaram, ou seja, que conversas brotaram após ouvirem/contarem as histórias, como o grupo interpretou a história contada, se ficaram sensibilizados e/ou identificados, que outras histórias foram inventadas, que sentidos foram atribuídos para as histórias contadas e para as histórias vividas, como a palavra e o poder circularam no grupo. Além do mais, as histórias agiram como dispositivos de agenciamento de subjetividades e de produção de sentidos para experiências como as de violências, desigualdades e adoecimento.
O grupo de contadores de histórias atua como uma companhia de atores que constrói um cenário onde as histórias são experimentadas, trocadas, rememoradas, produzidas e, mesmo, descartadas.
A primeira etapa desta experiência compreendeu a constituição da equipe como uma troupe de pesquisadores-contadores de histórias. Foi um tempo para os contadores se conhecerem, para as pessoas falarem sobre afetos e perspectivas vinculados ao trabalho e contarem pedaços de suas histórias de vida. Foi uma etapa de exploração, testagem e invenção de roteiros, argumentos, materiais, coros, vozes, estórias, que fez parte da montagem da caixa de ferramentas da companhia. Houve muita circulação de pessoas, que entendemos como desejo de conhecer a experiência sem que necessariamente quisessem permanecer no grupo.
Nesse processo, contamos as histórias dos nossos nomes, quem os escolheu e o significado dos mesmos. Pesquisamos as origens de nossas famílias, buscando as histórias afro-brasileiras, indígenas e europeias em nossas genealogias, figuras míticas com as quais queríamos nos identificar. Depois fizemos máscaras de gesso, tentando buscar a persona, o distanciamento que a máscara possibilita e a vontade de encenar outras vidas, outras faces, outras histórias. Fascinados com a plasticidade do gesso, exploramos possibilidades, fizemos moldes de mãos, confeccionadas em espaços de rua e em eventos ligados a direitos humanos. Já esboçávamos as primeiras saídas, mas ainda não nos sentíamos prontos.
Houve um momento que contamos no grupo, um texto literário que escolhemos como a história mais significativa de nossas vidas. Brotaram duendes e magos, esculápios, quírons, mulheres que correm com os lobos, o homem coyote (Snyder, 1997) demônios de muitas cores e nacionalidades. Vieram imagens bíblicas e o acervo humano da pintura, da poesia, das canções de ninar, dos cantos religiosos e profanos, sons de tambores e de instrumentos feitos pelos oficineiros.
Então, bordamos um estandarte, uma bandeira dos contadores de histórias feita de sucatas, de restos, de cacos, como afirma Jeanne Gagnebin (2004). Desfiamos panos, assim como Artur Bispo do Rosário (Hidalgo, 1996), e sem medo da loucura, costuramos, bordamos e rebordamos o tecido. Pensamos que poderíamos costurar um elemento no estandarte a cada oficina, agregando marcas de eventos que deram certo e oficinas que não saíram do chão, histórias incompreendidas, vaias e debandada geral de ouvintes, ou seja, um estandarte sempre em construção, holista, que contivesse quaisquer elementos que fazem parte da tessitura humana. Então, achamos que estávamos prontos para o primeiro ato.
Uma das primeiras oficinas “fora” do espaço protegido da equipe, foi realizada com um grupo de mulheres feministas que atua com foco em gênero, violências e direitos humanos. Estas militantes atuavam em uma organização não governamental em uma cidade da região Metropolitana de Porto Alegre e concordaram em participar de um grupo de contadores de histórias, cujo objetivo era problematizar a desigualdade de gênero, através de contos e mitos da história universal. Um dos encontros desta oficina foi analisado sob a perspectiva das práticas discursivas na experiência pós-doutoral da autora (Meneghel & Iñiguez, 2007).
Propusemos trabalhar histórias que ativassem a memória usando o mote das histórias infantis, dos contos de fada e do folclore universal. Estávamos no final do ano e a ideia era reabastecer o “tear” das militantes sociais com temas que disparassem lembranças de infância e de família e que elas se apropriassem da ferramenta “contar histórias” para usá-la na prática de trabalho.
Na oficina que chamamos “marcas corporais”, após ouvirem uma história do folclore esquimó (Estès, 2000), em que uma mulher foca perde a pele para o marido, elas dramatizaram a morte de Cristo. Na cultura ocidental, uma mulher representar o papel de Cristo morto, com estigmas pintados em vermelho nas mãos e nos pés é uma experiência de elevado teor de dramaticidade e envolvimento emocional. As outras mulheres fizeram um suporte, amarrando lenços e xales e a levaram nas costas depositando-a no centro do círculo onde ela foi pranteada. Esta cena em que estávamos todos misturados e as vozes já não eram dos contadores, mas das oficineiras, produziu um poderoso efeito no plano estético e emocional. O grupo de contadores foi o espaço protegido, onde as mulheres fizeram o papel de carpideiras, e prantearam as dores, as violências, as mortes já não mais no plano distanciado da violência do outro como objeto do trabalho social, mas das violências narradas e vividas pelos próprios atores. Como relatado por Felix Guattari (1992, p. 18) “a encenação possibilita, através do aspecto teatral, que se aprenda o caráter artificial criacionista da produção de subjetividade e que se produza um clima de autenticidade existencial acrescido de uma liberdade de jogo e simulacro”.
Rever esta cena, no agora de dez anos mais tarde, me faz lembrar o cortejo fúnebre encenado no filme “Ensaio sobre a cegueira” (Meirelles, 2008) em que as mulheres, como na vida real, carregam umas às outras, e que qualquer uma delas poderia ser uma de nós, morta violentamente no pavilhão [sociedade] onde impera a lei do macho.
A avaliação da oficina por parte das participantes revelou o quanto se sentiram amparadas, cuidadas e confortadas por meio de uma proposta que fugia do objetivo de “ensinar, capacitar, adquirir conhecimentos” para apenas “contar histórias e falar de coisas do cotidiano”.
Em uma oficina que articulamos em uma comunidade negra situada em região favelada da cidade de Porto Alegre, onde mais da metade da população está abaixo da linha da pobreza, nos inspiramos nas histórias das orixás, como recurso agenciador de aproximação e de diálogo.
As histórias das orixás constituíram nosso passe de entrada e, ao mesmo tempo, um dispositivo que possibilitou o aflorar de modos de expressão dissidentes em relação aos dominantes, principalmente às práticas generificadas pela cultura. Nesta oficina falamos das orixás de vários maneiras, pelo relato da história mítica, através da interpretação coletiva da história, pela confecção e pintura de máscaras e finalmente, quando cada participante escolheu uma orixá e vestiu-se ritualmente como ela.
As máscaras permitiram o ensaio e a alternância das personas e o agenciamento do fazer, já que foi a primeira atividade que elas participaram ativamente. Iniciava, então, o jogo de montar e desmontar personagens, um lado dor, o outro alegria, um lado menina, o outro mulher, um lado vítima, o outro heroína. A mão branca da oficineira no rosto negro da mulher, a máscara branca na pele negra, como na metáfora de Frantz Fanon (2008), mas de outro modo, tentando igualar ao invés de reafirmar a ideologia capitalista, branca e patriarcal.
Quando contamos a elas a histórias das orixás femininas elas, pela primeira vez no grupo, tomaram a palavra, nos contestaram e quiseram contar sua versão da mesma história. Desta maneira, no grupo, as histórias das orixás foram sendo contadas e recontadas, desconstruídas e reelaboradas no coletivo, não éramos mais aqueles que sabem e que ensinam e, como na fala de Paulo Freire (1968/2005), elas se apropriaram dos fatos de sua própria cultura, usaram a voz e o poder do contador de histórias, colocando-se no lugar daquele(a) que sabe e conta uma história: a história de seu povo (Meneghel, Farina & Ramão, 2005; Ramão, Meneghel & Oliveira, 2005).
No grupo, a arte e o lúdico se fazem potência, possibilidades de viver e experimentar que nos são roubadas pelo capitalismo, ao controlar o tempo e a vida, impedindo a imaginação e a criatividade. O jogo, a encenação, o brincar permitem exercitar esta capacidade esquecida: criar dispositivos que agenciem o devir-criança, enfim, a capacidade de montar e desmontar os sonhos, rir e começar de novo (Guattari & Rolnik, 1986/1996).
Consideramos que neste grupo, ao vestir-se ritualmente para encarnar o papel de uma deusa, houve a ativação de uma linha de força, capaz de desterritorializar subjetividades historicamente subordinadas. As histórias, máscaras, dramatizações e o ritual foram capazes de ativar mudanças e o grupo adquiriu voz e vontade própria (Ramão, Meneghel & Oliveira, 2005; Meneghel, Farina & Ramão, 2005). Nesta oficina foi possível experimentar a força que o ritual possui de superar, por meio do símbolo, o sofrimento e a aflição produzidos pelas iniquidades sociais, de raça e gênero (Naffah Neto, 1994; Peirano, 2003).
Em outra cidade da região metropolitana de Porto Alegre, que possui elevada incidência de HIV/aids, organizamos duas oficinas dirigidas a pessoas soropositivas. Uma delas na rua, porque não havia espaço para a contação de histórias no Serviço de Atenção Especializada (SAE) da cidade e julgamos que esse fato não devia ser um empecilho para realizar a oficina. Imbuídos desta ideia, conseguimos um veículo que estacionamos em frente ao SAE, instituição responsável pelo atendimento de pessoas que vivem com HIV.
Vestidos como palhaços, contamos histórias e distribuímos balões e balas às crianças. Avaliamos esta intervenção como uma ação pontual com pouco efeito porque para que houvesse alguma possibilidade de vínculo teríamos que permanecer no local por um período de tempo maior. Outro efeito negativo é a publicização que a oficina na rua representa para uma população que vem se defrontando com o rechaço e o preconceito que a aids ainda produz.
Uma segunda oficina foi realizada nesta mesma cidade com mulheres que vivem com HIV/aids que frequentavam uma organização não-governamental e se reuniam periodicamente (Meneghel, Farina, Silva et al., 2008). Nessa oficina, as histórias e propostas que fizemos foram sendo rechaçadas uma a uma. A oficina aconteceu, quando nos calamos e eles passaram a dizer o que pensavam e queriam. Então, ouvimos histórias de religião, salmos, parábolas e excertos bíblicos, relatados na voz da contadora que afirmava “deus fala pela minha boca”. Os relatos falavam de consolo e sentido para a doença por meio da experiência espiritual proporcionada pelas religiões populares.
Entendemos como outros autores (Rabelo & Alves, 2000; Valla, 2001) que as práticas simbólico-religiosas constituem estratégias de sobrevivência que as classes populares lançam mão em uma sociedade que lhes nega os direitos legítimos e que a fé e a espiritualidade oferecem um sentido para a vida, garantindo um espaço onde buscar consolo e encontrar energia para enfrentar a incerteza e o medo, a discriminação e o preconceito, a solidão, a dor e a proximidade da morte. Por outro lado, a maioria das religiões possui caráter conservador, cenário em que os papeis de gênero são exacerbados, as sexualidades correspondem ao modelo heterossexual compulsório e as mulheres são estimuladas a permanecerem na posição de inferioridade, mesmo que isto signifique submissão, exploração e violência.
Ao término deste grupo, a história que emergiu foi a de Esculápio, o curador ferido, instigando uma reflexão sobre a dupla polaridade do portador de HIV/aids: de um lado o homem/mulher ferido/a, e por outro, uma pessoa identificada com os poderes de cura, capaz de ouvir e interpretar a voz de deus. Como o curador ferido, as participantes do grupo se apropriaram do poder de cuidado a outras pessoas em situação de doença, desolação e vulnerabilidade, e algumas delas passaram a atuar como agentes no programa de redução de danos.
As narrativas e as histórias possibilitam acolher mulheres em situação de vulnerabilidade em serviços sociais e de saúde e estimular a construção de relações mais igualitárias, baseadas na confiança e na solidariedade. O grupo é um dispositivo potente para trabalhar com mulheres e as histórias permitem reviver e ressignificar experiências de dor, adoecimento e aflição (Mairesse, 2003; Meneghel, 2007), além de estimular o diálogo, a crítica, a cooperação e o trabalho coletivo.
Contar histórias em grupos de mulheres pode ser uma ação política, sempre que houver a possibilidade de reflexão e de ação. Perceber o grupo como político significa assumir que os atores produzem os seus enunciados a partir de um lugar social, que somos produtores ativos de nossas próprias histórias de vida (Zanella, Lessa & Da Ros, 2002), capazes de romper com os históricos mecanismos de subordinação e de nos emanciparmos.
A experiência de contar histórias mostrou-se capaz de fortalecer algumas mulheres nos grupos em que trabalhamos. Evidentemente que não se pode atribuir as mudanças apenas às narrativas, porque o simples fato de acolher e ouvir as pessoas já representa melhora e bem-estar. Porém, as histórias, assim como os mitos, as parábolas e os contos populares são mananciais de estratagemas de resistência (saídas, linhas de fuga, insights), que ajudam a entender os mecanismos que operam no sentido de manter as desigualdades e a buscar ferramentas para sair dessas situações (Certeau, 1994/2004; Lehman, 2001).
Um aspecto que deve ser cuidadosamente planejado é o tipo de história a ser escolhida para oficinas de contadores de histórias. As histórias que escolhemos sempre trazem a questão de gênero, quer sejam histórias do folclore universal, mitologias, parábolas bíblicas, textos jornalísticos, relatos de Internet, poesias (Moraes & Meneghel, 2009), músicas (Lise & Meneghel, 2012) ou filmes. Os temas de interesse dos grupos inspiram a escolha das histórias, e em muitas situações o texto previamente escolhido foi deixado de lado, para dar lugar a outro que emerge orientado pela intuição do(a) contador(a), ou para ouvir as vozes do grupo.
Outro aspecto que as histórias parecem estimular é a superação da cisão entre conhecimento popular versus conhecimento científico, entre as experiências do outro (usuária, pobre, doente) e as nossas próprias experiências. No trajeto da pesquisa constatamos que a ferramenta “contar histórias” pode ser utilizada em intervenções psicossociais com mulheres, ajudando no acolhimento, vínculo e cuidado.
Porém, este trabalho apresenta limitações e senões. Um deles é o caráter quase artesanal destes grupos, cujo tempo de latência, que compreende desde as articulações institucionais até à consolidação, pode ser longo. Outro aspecto refere-se ao local de realização, que pode expor os usuários (quando a adesão ao grupo indica que a pessoa possui um determinado agravo, como álcool, drogas, aids), além do fato que muitas pessoas não têm recursos para frequentar o grupo, quando o local dos encontros é em região distante dos domicílios.
Outra limitação é a secundarização que há na cultura institucional dos serviços de saúde das atividades grupais e não médicas que incorporam apenas tecnologias leves (Mehry, 2002), havendo uma sobrevalorização da consulta médica e do fornecimento de exames e fármacos. Outro aspecto é que as práticas grupais têm um lugar reduzido na formação dos profissionais do campo da saúde, que por possuírem pouca experiência, não se sentem capazes para usar este recurso ou passam a utilizá-lo de modo “bancário”, como afirmava Paulo Freire (1968/2005) ao se referir às preleções que fazemos em nome da educação em saúde.
De qualquer maneira, acreditamos que grupos de contadores de histórias possibilitam uma vivência rica e singular, uma intensa troca de afetos, histórias e conhecimentos e a reinvenção da velha metodologia das narrativas orais. Em nosso trajeto, experimentamos possibilidades pouco ortodoxas (Meneghel, Barbiani et al. 2005) e apostamos nos hibridismos, nas bricolagens, na arte e no ritual. Os grupos de contadores de histórias permitiram a exploração de outras possibilidades para o trabalho que realizamos na fronteira entre a saúde coletiva, os estudos de gênero e a pesquisa intervenção. Enfim, contando e ouvindo histórias, descobrimos que as estórias são um dispositivo valioso para o enfrentamento coletivo de problemas e para pensar relações de gênero mais igualitárias e equânimes.
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